segunda-feira, 23 de abril de 2012

"Sinto-me que se fosse uma peça de um puzzle, mal encaixada na vida das pessoas. Aliás, não somente das pessoas; o puzzle que a sociedade é parece também não ter contornos que cubram os meus e me façam sentir incluída na imagem. É como se eu fosse uma peça defeituosa; uma peça que possui rebordos inadequados ao puzzle. E é isto que eu sou hoje. Melhor, que eu sempre o fui e possivelmente, sempre o serei. Se a tendência da minha natureza é isolar-me, por ser uma pessoa tímida nas primeiras impressões, a sociedade e aqueles que me rodeiam parecem reforçar essa ideia. Contudo, o que não faz parte da minha natureza é sentir-me sozinha. Sentir-me assim é pisar a linha do meu limite psicológico. E hoje eu atingi esse meu limite. Nunca sentiram que o mundo vos está a esmagar e que nada podem fazer para contrariar isso? Nunca sentiram que estão num beco que não tem saída? Eu sinto que nem num beco sem saída estou. Eu sinto que estou presa numa caixa escura, fechada com chaves e cadeados e que de lá nunca poderei sair. E como eu tenho medo do escuro, como eu tenho medo de me sentir só...  Sinto-me cansada. Não somente fisicamente - a dor física é a menor das minhas dores -, mas psicologicamente. Sinto-me arrasada, completamente exausta. Como eu disse, eu atingi o meu limite. A minha cabeça lateja. Todo o meu corpo implora calma. Nunca fui uma pessoa estável e hoje sei que nunca o serei. Eu não peço a minha antiga vida de volta porque, sinceramente, nem aquilo que vivi no passado hoje me serve de consolo. Eu quero somente que a vida me dê a oportunidade que eu já há muito mereço. Eu não quero mais uma oportunidade. Eu quero a oportunidade. Mas, para já, eu quero dormir. Eu quero dormir e esquecer tudo aquilo que me rodeia. Quero esquecer que ser boa menina nunca me levará a lado nenhum. Esquecer que perdoar depois de uma humilhação é quase a mesma coisa que pedir uma nova humilhação... Eu quero até esquecer que tenho vida, pois isso poupar-me-ia muitos desgostos! Eu sei que, de manhã, quando acordar, tudo estará igual. E que continuarei a sentir-me uma peça defeituosa de um puzzle bonito. E que continuarei a perdoar quem nunca mereceu perdão. Pior, continuarei a ter noção que as pessoas que mais amo são também as que mais me desiludem, pois é em cima delas que eu construo os meus sonhos e daí crio as minhas expectativas para elas. Mas quantas mais expectativas criamos, menos as pessoas acertam nelas e mais nos desiludem certo? O segredo para nunca nos desiludirmos é nunca criarmos expectativas, eu sei. Mas eu só me lembro desses ditados populares depois de já tudo ter acontecido... 0 Quero dormir. Quero ter um sonho bonito. Quero não acordar: não acordar desse sonho nem acordar para viver a minha vida.
. Sinto que até já as minhas lágrimas secaram. Pelo menos hoje, pelo menos por agora. . Este texto não é mais um dos que escrevo. Não é mais uma história que sai dos meus dedos - quem me dera que fosse! Este conjunto de frases soltas é a minha vida neste momento. E eu sei que serão os poucos que lerão este meu testamento do princípio ao fim. E eu sei que há pessoas que conheço que, possivelmente, o irão ler. E possivelmente, serão as primeiras a perguntar-me se está tudo bem. E a minha resposta será sempre mais uma desculpa, algo que despache o assunto. Porque este meu canto mais dorido do meu interior ninguém conhece. Hoje dei-o a conhecer ao mundo, através desta minha página. Porque hoje atingi o meu limite."





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